MP3 no Linux: Ripagem

O verbo Ripar é um neologismo derivado do verbo da língua inglesa Rip, que significa, literalmente, dilacerar. No meio da computação, o processo de extração dos dados de um CD ou DVD para um disco rígido é conhecido como ripagem (ripping em inglês). Para realizar o trabalho de ripagem é necessário um software específico, conhecido como ripador (ripper - cabe lembrar que as pessoas que executam esta tarefa também são conhecidas por estes termos). Basicamente, o trabalho de ripar consiste em extrair os dados da mídia e gravá-los no disco, em um formato pré-definido, sendo que o formato MP3 é o preferido para músicas.

Com estes termos em mente, já podemos partir para a próxima etapa do nosso trabalho: encontrar um bom software ripper. Temos alguns bons softwares deste tipo para Linux, mas neste texto serão apresentados apenas duas soluções: uma em modo texto com a dobradinha CDParanoia e LAME e outra em modo gráfico com SoundKonverter.

O modo texto de encarar os desafios

A ripagem em modo texto, apesar de fácil, requer um pouco mais de atenção (como qualquer trabalho a ser feito neste modo). Além disso, a tarefa é dividida em duas "sub-tarefas": primeiro deve-se ripar o CD, gerando os arquivos no formato Wav (CDParanoia) e depois deve-se converter estes arquivos gerados para o formato MP3 (LAME).

Segundo, CDParanoia é um software ripador de CDs de áudio, que manipula diretamente os dados presentes na mídia, sem fazer uso de etapas analógicas. O CDParanoia vem junto com o DVD de instalação do openSUSE. Para instalá-lo, basta mandar o YaST procurar por cdparanoia e instalar o pacote encontrado (em alguns casos pode ser necessário instalar o pacote cdparanoia-32bit). A utilização do CDParanoia não requer muitos conhecimentos por parte do usuário, sendo necessário que o mesmo utilize, basicamente, três comandos.

$ cdparanoia -vsQ


O primeiro comando a saber com relação ao CDParanoia faz uma busca nos drives de CD/DVD presentes no sistema, por mídias de áudio. Assim, para usar este programa, caso esteja usando uma distribuição Linux com detecção automática de mídias como a openSUSE, coloque a mídia no drive e espere alguns segundos até que o sistema a detecte. Caso o sistema não tenha este tipo de detecção, monte a mídia manualmente (veja comando mount). Uma vez que a mídia já seja detectada pelo sistema, o comando acima pode ser usado para listar as faixas presentes na mesma. Apesar de ser um comando aparentemente inútil (já que só lista as faixas da mídia presente no drive), ele pode servir para averiguar se a mídia realmente já foi reconhecida pelo sistema. O cifrão inicial do comando apenas indica que é um prompt de usuário comum. A seguir há a chamada direta ao programa (cdparanoia), sucedida dos parâmetros v (de verbose, ou seja, exibindo várias informações para o usuário), s (de search for drive, ou seja, habilita a procura por um drive de mídia) e Q (de query, ou seja, uma vez encontrado um drive, o programa procura e imprime na tela dados da mídia - caso exista).

$ cdparanoia -B


O comando anterior é simples e direto. É ele que faz a ripagem da mídia, gerando um arquivo no formato Wav para cada faixa encontrada. A lógica de uso é como no anterior: colocar a mídia, esperar pela autodetecção do sistema (ou montá-la manualmente) e executar o comando. O que garante a extração das faixas presentes na mídia é o parâmetro passado (-B). Durante a execução deste comando, será extraída uma faixa por vez e será exibida na tela uma espécie de barra de progresso. Caso seja impresso um '+' nesta barra, significa que houve algum tipo de perda de fluxo ou algum erro de leitura naquele ponto da faixa. Apesar de parecer preocupante é normal que apareçam alguns sinais destes em certas músicas, sem que a perda seja perceptível. Além disso, um smiley indica o andamento da operação atual. Abaixo seguem os possíveis smilies com o seu significado, retirados do próprio manual do CDParanoia:

:-) Operação normal, baixo/sem jitter [8]
:-| Operação normal, jitter considerável
:-/ Ler a tração
:-P Perda não reportada de fluxo em operação atômica de leitura
8-| Encontrando problemas de leitura em algum ponto durante releitura; difícil de corrigir
:-0 Erro de transporte SCSI/ATAPI
:-( Arranhão detectado
;-( Desistiu de tentar corrigir
8-X Leitura abortada devido a erro conhecido e incorrigível
:^D Extração finalizada


Terminada a ripagem, já possuímos os arquivos Wav em disco. É hora de convertê-los para MP3!
O LAME é um codificador (encoder, em inglês) de MP3, sendo o seu nome, a sigla recursiva para LAME Ain't an MP3 Encoder (LAME Não é um Codificador de MP3 - isto se justifica pelo fato de que nas primeiras versões do programa, o mesmo não era um ripador completo). A instalação do LAME é bastante simples no openSUSE. Tendo o repositório Packman cadastrado no YaST, basta procurar e mandar instalar o pacote lame.

$ lame ARQUIVO.wav ARQUIVO.mp3


O comando acima apresenta o modo mais simples de funcionamento do LAME, utilizando as configurações padrões do mesmo para converter o arquivo no formato Wav. No caso, lame é a chamada para o programa; ARQUIVO.wav é o nome do arquivo a ser convertido e ARQUIVO.mp3 é o nome que o arquivo gerado receberá. Como é interessante alterarmos algumas configurações padrões para obtermos músicas melhores ou arquivos menores, torna-se necessário passar algumas opções extras para o programa na forma de parâmetros. Isso é visto na próxima linha de comando.

$ lame -m j -h -b 192 ARQUIVO.wav ARQUIVO.mp3


Uma vez invocado o programa (lame), a opção -m informa que o usuário indicará o modus operandi do LAME (Joint Stereo - j -, no caso). O parâmetro -h usa algumas melhorias na qualidade do arquivo a ser gerado e o parâmetro -b indica ao programa que o usuário irá escolher em seguida o bitrate do arquivo final (192kbps, no caso). A seguir deve ser informado o arquivo no formato Wav a ser convertido, seguido pelo nome do arquivo no formato MP3 a ser gerado. Cabe ressaltar que, no caso do nome do arquivo MP3 a ser gerado ser omitido, a extensão .mp3 será anexada no final do nome do arquivo Wav, gerando um arquivo de nome ARQUIVO.wav.mp3 como saída.

O intuitivo modo gráfico

O SoundKonverter é um front-end para vários conversores de áudio (inclusive para os já citados CDParanoia e LAME) e além de ser capaz de trabalhar com vários formatos de arquivo, o programa é um ripador de CDs de áudio e uma interface para softwares normalizadores de volume, como o MP3Gain, ou seja, três programas em um.

A primeira coisa a se fazer para utilizar o SoundKonverter (SK) é inserir um CD de áudio no drive e esperar que o sistema o detecte ou montá-lo manualmente. Uma vez que o CD tenha sido reconhecido pelo sistema, basta abrir o SK (dependendo da configuração do sistema operacional, uma janela de nova mídia encontrada pode ser aberta, exibindo a opção de se abrir a mídia com o SK, o que agiliza o trabalho) e mandar carregar a mídia inserida no botão do canto inferior da janela, selecionando a opção "Adicionar faixas de CD", de acordo com a figura 01.


Figura 01. O botão destacado de vermelho adiciona faixas de CD ao programa.


Ao clicar no botão supra citado, uma janela se abrirá exibindo informações acerca da mídia incluída. Caso haja conexão com a Internet, o programa utiliza o CDDB para obter mais informações sobre a mídia, sendo capaz de exibir nomes de artistas, título de músicas e do álbum etc. A figura 02 mostra esta janela exibindo informações do CD "As Quatro Estações de Vivaldi"(coleção Millenium). Na parte superior da janela alguns parâmetros gerais podem ser alterados e na parte inferior, parâmetros específicos de músicas podem ser igualmente editados de forma separada. No centro da janela são listadas as músicas encontradas na mídia, bastando que o usuário selecione quais ele deseja extrair para o disco rígido, clicar na seta à esquerda do botão Cancelar, na parte inferior da janela e selecionar a opção "Adicionar faixas selecionadas" (no caso de querer extrair todas as músicas, basta clicar diretamente no botão "Adicionar todas as faixas", sem que haja a necessidade de selecionar quaisquer músicas).


Figura 02. Informações sobre a mídia obtidas com o CDDB.


Depois que as músicas forem adicionadas ao programa, o usuário tem a opção de executar a ripagem ou fazer alguns ajustes finos. A figura 03 mostra alguns itens que podem ser alterados. Para isso deve-se acessar a guia Detalhado e dentro dela, selecionar a opção MP3. Isto fará com que o programa ripe e converta os arquivos das músicas de uma só vez. O próximo item é a taxa de bits que pode ser alterada (sugere se 192kbps).


Figura 03. Etapa final de ripagem/conversão.


Uma vez configuradas estas opções, basta clicar no botão Iniciar, para que a ripagem e a conversão tenham início. O interessante no SK é que ele implementa um sistema de programação concorrente, onde, enquanto um arquivo é ripado, o anterior (já ripado) é convertido, o que diminui o tempo de trabalho. Este comportamento pode ser observado na figura 04.


Figura 04. Concorrência no SoundKonverter.


Ao final da operação, os arquivos estarão presentes no diretório especificado no campo Saída(figura 05).


Figura 05. Todas as músicas disponíveis no formato MP3 ao final da operação.


Como pode ser percebido, o processo de ripagem e compactação de arquivos de música no Linux é bastante simples e pode ser feito no modo gráfico ou no modo texto, o que vai depender apenas da escolha do usuário.

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